"Buscar sentido na Arte a destrói, simplesmente porque a Arte é o sentido dos sentidos"

Juliana Bonnet




quinta-feira, 30 de agosto de 2012

ÉDIPO REI- Sófocles


Resumo e impressões da peça “Édipo Rei” de Sófocles

por Ju Bonnet

O primeiro ensinamento que me vem a cabeça depois de ler essa peça foi:

“Ao querer mudar seu destino radicalmente, radicalmente ele será concretizado como foi predestinado anteriormente, da forma mais real e intensa que ele poderia acontecer”

    A peça Édipo me fez pensar o quanto somos tolos ao imaginar que podemos controlar com tanta clareza nossos caminhos. Não podemos. O caminho já está trilhado, vamos apenas floreá-lo, dando cheiros, sabores e cores em nossa existência. Na Bíblia, há trechos em que Deus revela que nem um fio de cabelo caí da cabeça de alguém sem o seu consentimento. Não vamos defender nenhuma religião aqui, mas o fato de em vários momentos da nossa vida acontecerem coisas bizarras, como encontrar com pessoas essenciais ,ou mesmo episódios, que chamamos de coincidências ou sorte, me faz pensar que existe algo maior nos rodeando por aí, que sem pretensão nenhuma eu chamo de Deus. Sinceramente eu não acredito em sorte. Acredito em esforço e principalmente no bem. Acredito na Lei da atração, você tem o que você merece. O “TER” não é possuir, mas sim “SER”. Ou seja você é o que é a sua essência, e os frutos , amizades, trabalho, amor, são reflexos do “Ser”.

Escrevi mesmo porque essas tragédias nos fazem re-visitar  vários temas em nossas vidas, como vida-morte-vida, destino, amor e Deus ou Deuses.

A peça “Édipo Rei”  se inicia num ambiente tenso e escuro. A cidade de Tebas está insatisfeita, e o Rei Édipo quer de qualquer forma atender às necessidades da cidade.
Apolo mandou matar o indivíduo que manchou a história e imagem da Cidade de Tebas. Que com suas mãos matou o príncipe Laio. Apolo deixa claro que é expressamente necessário que quem cometeu esse ato seja punido, assassinado, morto.
Édipo, como um Rei bastante envolvido com as questões da cidade, amaldiçoa com suas próprias palavras o assassino de Laio, e manda chamar Tirésias, um sabedor do destino, que poderia lhe dar informações do paradeiro do assassino.
Ao interrogar Tirésias sobre o assassinato de Laio, se depara com um grande impecílio: Tirésias nada quer falar, pois alega que se falar a verdade será muito pior.
Édipo não aceita o posicionamento de Tirésias, e o força a falar. Tirésias fala que o assassino é ao mesmo tempo, pai e irmão dos seus filhos, e também, é filho e esposo de sua mulher. Depois de mais algumas frases malditas, ele revela que o assassino é o próprio Édipo Rei.
Édipo não aceita, mas fica sabendo por sua mulher e pelo povo que Laio foi assassinado numa tríplice encruzilhada, e que ainda vivo, ele sabia que seria morto por seu filho, por isso mandou amarrar seu filho e deixou-o num lugar de difícil acesso, para que morresse e a profecia não se cumprisse.  Porém, algumas pessoas o salvaram.
Édipo ao ouvir essas histórias começa a recordar em sua cabeça alguns acontecimentos, e ele se lembra que assassinou várias pessoas numa tríplice encruzilhada.
Vários episódios durante a peça o fazem desvendar que ele é realmente o assassino de seu pai, e que ele é esposo de sua própria mãe. Seus filhos são ao mesmo tempo filhos e seus irmãos.
Sua esposa, que também é sua mãe, não consegue aguentar tamanha a ador da verdade, e se suicida.
No ápice de sua dor, Édipo fura seus próprios olhos.

Elementos Essenciais da Tragédia Grega
Hybris - Sentimento que conduz os heróis da tragédia à violação da ordem estabelecida através de uma acção ou comportamento que se assume como um desafio aos poderes instituídos (leis dos deuses, leis da cidade, leis da família, leis da natureza).
Pathos - Sofrimento, progressivo, do(s) protagonista(s), imposto pelo Destino (Anankê) e executado pelas Parcas (Cloto, que presidia ao nascimento e sustinha o fuso na mão; Láquesis, que fiava os dias da vida e os seus acontecimentos; Átropos, a mais velha das três irmãs, que, com a sua tesoura fatal, cortava o fio da vida), como consequência da sua ousadia.
Ágon - Conflito (a alma da tragédia) que decorre da hybris desencadeada pelo(s) protagonista(s) e que se manifesta na luta contra os que zelam pela ordem estabelecida.
Anankê - É o Destino. Preside às Parcas e encontra-se acima dos próprios deuses, aos quais não é permitido desobedecer-lhe.
Peripécia - Segundo Aristóteles, "Peripécia é a mutação dos sucessos no contrário". Assim, poderemos considerar um acontecimento imprevisível que altera o normal rumo dos acontecimentos da acção dramática, ao contrário do que a situação até então poderia fazer esperar.
Anagnórise (Reconhecimento) - Segundo Aristóteles, "o reconhecimento, como indica o próprio significado da palavra, é a passagem do ignorar ao conhecer, que se faz para a amizade ou inimizade das personagens que estão destinadas para a dita ou a desdita." Aristóteles acrescenta: "A mais bela de todas as formas de reconhecimento é a que se dá juntamente com a peripécia, como, por exemplo, no Édipo." O reconhecimento pode ser a constatação de acontecimentos acidentais, trágicos, mas, quase sempre, se traduz na identificação de uma nova personagem, como acontece com a figura do Romeiro no Frei Luís de Sousa.
Catástrofe - Desenlace trágico, que deve ser indiciado desde o início, uma vez que resulta do conflito entre a hybris (desafio da personagem) e a anankê (destino), conflito que se desenvolve num crescendo de sofrimento (pathos) até ao clímax (ponto culminante). Segundo Aristóteles, a catástrofe " é uma acção perniciosa e dolorosa, como o são as mortes em cena, as dores veementes, os ferimentos e mais casos semelhantes." 

Katharsis (Catarse) - Purificação das emoções e paixões (idênticas às das personagens), efeito que se pretende da tragédia, através do terror (phobos) e da piedade (eleos) que deve provocar nos espectadores.