Resumo e impressões da peça
“Édipo Rei” de Sófocles
por Ju Bonnet
O primeiro ensinamento que me
vem a cabeça depois de ler essa peça foi:
“Ao querer mudar seu
destino radicalmente, radicalmente ele será concretizado como foi predestinado
anteriormente, da forma mais real e intensa que ele poderia acontecer”
A peça Édipo me fez pensar o quanto somos tolos ao imaginar que podemos
controlar com tanta clareza nossos caminhos. Não podemos. O caminho já está
trilhado, vamos apenas floreá-lo, dando cheiros, sabores e cores em nossa
existência. Na Bíblia, há trechos em que Deus revela que nem um fio de cabelo
caí da cabeça de alguém sem o seu consentimento. Não vamos defender nenhuma
religião aqui, mas o fato de em vários momentos da nossa vida acontecerem
coisas bizarras, como encontrar com pessoas essenciais ,ou mesmo episódios, que
chamamos de coincidências ou sorte, me faz pensar que existe algo maior nos
rodeando por aí, que sem pretensão nenhuma eu chamo de Deus. Sinceramente eu
não acredito em sorte. Acredito em esforço e principalmente no bem. Acredito na
Lei da atração, você tem o que você merece. O “TER” não é possuir, mas sim
“SER”. Ou seja você é o que é a sua essência, e os frutos , amizades, trabalho,
amor, são reflexos do “Ser”.
Escrevi mesmo porque essas tragédias nos
fazem re-visitar vários temas em nossas
vidas, como vida-morte-vida, destino, amor e Deus ou Deuses.
A peça “Édipo Rei” se inicia num ambiente tenso e escuro. A
cidade de Tebas está insatisfeita, e o Rei Édipo quer de qualquer forma atender
às necessidades da cidade.
Apolo mandou matar o indivíduo que
manchou a história e imagem da Cidade de Tebas. Que com suas mãos matou o
príncipe Laio. Apolo deixa claro que é expressamente necessário que quem cometeu
esse ato seja punido, assassinado, morto.
Édipo, como um Rei bastante envolvido
com as questões da cidade, amaldiçoa com suas próprias palavras o assassino de
Laio, e manda chamar Tirésias, um sabedor do destino, que poderia lhe dar
informações do paradeiro do assassino.
Ao interrogar Tirésias sobre o
assassinato de Laio, se depara com um grande impecílio: Tirésias nada quer
falar, pois alega que se falar a verdade será muito pior.
Édipo não aceita o posicionamento de
Tirésias, e o força a falar. Tirésias fala que o assassino é ao mesmo tempo,
pai e irmão dos seus filhos, e também, é filho e esposo de sua mulher. Depois
de mais algumas frases malditas, ele revela que o assassino é o próprio Édipo
Rei.
Édipo não aceita, mas fica sabendo por
sua mulher e pelo povo que Laio foi assassinado numa tríplice encruzilhada, e
que ainda vivo, ele sabia que seria morto por seu filho, por isso mandou
amarrar seu filho e deixou-o num lugar de difícil acesso, para que morresse e a
profecia não se cumprisse. Porém, algumas
pessoas o salvaram.
Édipo ao ouvir essas histórias começa a
recordar em sua cabeça alguns acontecimentos, e ele se lembra que assassinou
várias pessoas numa tríplice encruzilhada.
Vários episódios durante a peça o fazem
desvendar que ele é realmente o assassino de seu pai, e que ele é esposo de sua
própria mãe. Seus filhos são ao mesmo tempo filhos e seus irmãos.
Sua esposa, que também é sua mãe, não
consegue aguentar tamanha a ador da verdade, e se suicida.
No ápice de sua dor, Édipo fura seus
próprios olhos.
Elementos Essenciais
da Tragédia Grega
Hybris - Sentimento
que conduz os heróis da tragédia à violação da ordem estabelecida através de
uma acção ou comportamento que se assume como um desafio aos poderes
instituídos (leis dos deuses, leis da cidade, leis da família, leis da
natureza).
Pathos - Sofrimento,
progressivo, do(s) protagonista(s), imposto pelo Destino (Anankê) e
executado pelas Parcas (Cloto, que presidia ao nascimento e sustinha o fuso na
mão; Láquesis, que fiava os dias da vida e os seus acontecimentos; Átropos, a
mais velha das três irmãs, que, com a sua tesoura fatal, cortava o fio da
vida), como consequência da sua ousadia.
Ágon - Conflito (a
alma da tragédia) que decorre da hybris desencadeada pelo(s)
protagonista(s) e que se manifesta na luta contra os que zelam pela ordem
estabelecida.
Anankê - É o
Destino. Preside às Parcas e encontra-se acima dos próprios deuses, aos quais
não é permitido desobedecer-lhe.
Peripécia - Segundo
Aristóteles, "Peripécia é a mutação dos sucessos no
contrário". Assim, poderemos considerar um acontecimento imprevisível que
altera o normal rumo dos acontecimentos da acção dramática, ao contrário do que
a situação até então poderia fazer esperar.
Anagnórise (Reconhecimento)
- Segundo Aristóteles, "o reconhecimento, como indica o próprio
significado da palavra, é a passagem do ignorar ao conhecer, que se faz para a
amizade ou inimizade das personagens que estão destinadas para a dita ou a
desdita." Aristóteles acrescenta: "A mais bela de todas as formas de reconhecimento
é a que se dá juntamente com a peripécia, como, por exemplo, no Édipo."
O reconhecimento pode ser a constatação de acontecimentos acidentais,
trágicos, mas, quase sempre, se traduz na identificação de uma nova personagem,
como acontece com a figura do Romeiro no Frei Luís de Sousa.
Catástrofe - Desenlace
trágico, que deve ser indiciado desde o início, uma vez que resulta do conflito
entre a hybris (desafio da personagem) e a anankê (destino),
conflito que se desenvolve num crescendo de sofrimento (pathos) até ao clímax
(ponto culminante). Segundo Aristóteles, a catástrofe " é uma acção
perniciosa e dolorosa, como o são as mortes em cena, as dores veementes, os
ferimentos e mais casos semelhantes."
Katharsis (Catarse)
- Purificação das emoções e paixões (idênticas às das personagens), efeito que
se pretende da tragédia, através do terror (phobos) e da piedade (eleos)
que deve provocar nos espectadores.
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